data-filename="retriever" style="width: 100%;">Nada é para sempre (título de um filme de mil novecentos e noventa e alguma coisa, dirigido, se minha gasta memória não me deixar na mão, por Robert Redford. Depois, confiro). Mas, deixemos de lado a transcendência que nos dá a possibilidade concreta de ver as coisas de forma diferente e fiquemos na palpabilidade das coisas reais da vida terrena.
É, repito, nada dura para sempre. Nem aquele amor romance de capa e espada capaz de embalar nossos sonhos mais ternos e mais doces, nem o ódio nascido das desavenças políticas e fomentado nas redes sociais. Vezes haverá em que a perspectiva do fim pode sofrer solavancos e interrupções em decorrência de ações nossas. Em outras tantas, porém, o fim independerá do que fizermos ou deixarmos de fazer.
Por quantas vezes queremos, ardentemente, que as situações em nossa vida tenham um determinado rumo e um propósito bem definido, só que a própria vida se encarrega de direcioná-las no sentido oposto ao da rota que planejamos e também do propósito estabelecido?
Quantas vezes almejamos que determinado encontro e uma situação bem definida se vistam de permanência e fiquem conosco e eles, fugidios, indomáveis, se fazem contundentes ausências?
Quantas vezes aquilo que parece ao alcance da mão se desvanece diante da possibilidade do contato? Quantas vezes os sonhos que se fazem realidade, de repente, num átimo, se convertem em pesadelos?
É, nada é para sempre pela perspectiva grosseira de nosso olhar humanamente físico e imperfeito. Tudo passa, tudo se transforma, tudo acaba, considerando o momento em que nascem ou se fortalecem nossos sentimentos por alguém ou por alguma coisa. Talvez quem nos ame hoje, amanhã, esteja próximo de nos odiar. Talvez, as mãos que hoje anseiam pelo toque amanhã se repilam. Certamente, todo amor, mesmo aquele que permanecer, se transformará com a incontornável passagem do tempo e não será o mesmo de antes.
A clara consciência de nossa finitude pode fazer mais leve o fardo que nos foi dado a carregar, mas aí já voltamos à transcendência que eu queria deixar de lado. É o caso, quem sabe, de apelarmos aos poetas para, assim, nos iluminarmos com a poesia, que é, malgrado a maioria assim não entenda, alimento fundamental para nossa sobrevivência neste mundo pleno de finitudes e para a compreensão da vida.
Fernando Pessoa, sem dúvida o maior poeta da língua portuguesa, em vários momentos de sua maravilhosa obra, tratou direta ou indiretamente dessa questão, como, exemplificativamente, nos versos seguintes, nos quais entram amor e morte: "Eu não sei senão amar-te, / Nasci para te querer / Ó quem me dera beijar-te / E beijar-te até morrer." Aliás, Pessoa nos ensinou o que muitos de nós repetimos de formas variadas: "O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela." E eu queria falar da finitude das coisas!